Música de Peso - De Turbulence até Zoom Code passaram-se 4 anos e uma mudança de editora. Porquê a My Kingdom Music?
Guilhermino Martins - Porque tem bandas de que gostamos (Crowhead, Rain Paint) e porque nos apresentaram uma entusiasta proposta para o lançamento do álbum que não nos deixou dúvidas sobre a quem entregar a edição do mesmo.
MP- Quando Turbulence saiu, não tardou a ser considerado um dos melhores álbuns de metal do ano e houve mesmo quem falasse no melhor álbum português em 10 anos. Por outro lado, houve quem vos acusasse de uma falta de som próprio, procurando antes "colar-se" a algo próximo daquilo que os Opeth fazem - inclusive a nível vocal. Como reagiram/reagem vocês perante críticas tão diferentes?
GM - É um facto. Um mesmo tema de TSO chega a ser comparado a coisas diametralmente opostas, o que, a meu ver, só pode ser bom sinal. A nossa reacção normalmente fica-se por um sorriso, seja pelas críticas mais corrosivas, seja pelas descrições mais efusivas. O prazer que retiramos na criação dos álbuns, do expurgar da música que temos cá dentro é impagável e incorruptível.
MP - Zoom Code está a ser recebido de braços abertos, com críticas muito positivas. Mais importante, parece-me a mim que vocês conseguiram atingir um patamar superior: têm o vosso próprio som, o Eduardo e a Patrícia fazem um "dueto" constante, equilibrado e poderoso ao longo de todo o álbum, tu pareces ter dado mais largas às tuas capacidades como guitarrista...enfim, toda a banda parece ter crescido imenso. Isto foi fruto de muito trabalho ao longo destes quatro anos ou foi algo que pura e simplesmente aconteceu, algo espontâneo, fruto de um crescimento individual?
GM - Obrigado! Tenho ideia de que sempre evoluímos muito entre todos os álbuns. Talvez neste CD esse traço evolutivo se note mais, sim. E acaba por ser fruto do nosso crescimento enquanto músicos e pessoas. Com essa maturidade acaba por vir a tal personalização que o nosso som cada vez mais apresenta. Não há um “plano”, as coisas apenas acontecem na sala de ensaios, nos concertos, no dia-a-dia.
MP - Algo que salta também à vista é a incorporação de muitos mais elementos electrónicos
GM - Esse fascínio pelo aproveitamento das potencialidades do “programming” já vem desde há alguns anos, mas, mais do que apreciar essa vertente, é preciso saber dominá-la. E, honestamente, só agora com este álbum nos sentimos suficientemente à vontade para a utilizarmos de forma tão veemente no nosso som.
MP - Como é que vocês vêem Zoom Code? Sentem-se totalmente satisfeitos com o produto final?
GM - É o nosso melhor álbum e é, provavelmente, o primeiro registo de uma nova fase da banda, cada vez mais livre, única e personalizada.
MP - Houve algumas influências diferentes/novas para este registo?
GM - Melómanos como somos, isso acaba, obviamente, por influenciar a forma como compomos, executamos e gravamos a nossa música. Além disso, sendo uma banda tão aberta a influências normalmente não associadas ao metal, é natural que acabemos por incorporar formas de espírito típicas de outros géneros.
MP - Como surgiram as oportunidades de colaboração com o Zweizz e o Timb Harris?
GM - Sentimos que havia espaço para um interlúdio electrónico para a faixa Last of the Few, apresentámos a ideia ao Zweizz e assim nasceu a The Shift. No caso do Timb, imaginámos que aquela secção do tema L. seria óptima para um solo de violino, enviámos-lhe o tema e ele respondeu prontamente, dizendo que queria gravá-lo!
MP - Guilhermino, ultimamente além de músico, passaste para o outro lado e começaste a trabalhar como produtor. Faz parte dos teus objectivos trabalhar como produtor ou procuras apenas dar a conhecer aquilo que por cá se faz?
GM - Eu sou professor de música. A produção surgiu como uma necessidade, inicialmente para as pré-produções de TSO e, numa segunda fase, para gravar os projectos das bandas que se iam formando por esta zona, algumas delas com alunos ou ex-alunos meus. Neste momento não tenho um objectivo delineado no âmbito da produção. Limito-me a ir gravando os projectos que me abordam e nos quais reconheço alguma validade artística, mas tudo sem grandes metas nesse campo, até porque, mais do que um connaiseur, sou um legítimo curioso…
MP - Sentes-te um dos maiores impulsionadores da cena metal no norte do país?
GM - Não. Sinto é que, genuinamente, gosto de ajudar as bandas mais novas para que não tenham de passar pelo que nós passámos por não terem nascido na região de Lisboa, na tentativa de provarem o seu valor. Aconselho, ajudo no que posso e vamos sempre lançando um/dois grupos desta zona a cada Liperske que organizamos.
MP - Se pudessem escolher, como quem dividiam o palco?
GM - Já tocámos com algumas bandas que admiramos como Katatonia, Samael ou Orphaned Land. Neste momento não sei o que os outros elementos de TOS te responderiam, mas, eu adoraria partilhar o palco com Atrox, Porcupine Tree, Pure Reason Revolution ou Three.
MP - Como vêem a cena metal cá em Portugal?
GM - Cada vez mais viva, forte e artisticamente relevante. Falta é um circuito nacional para concertos. Uma lacuna com décadas no nosso país.
MP - Como está a correr a divulgação ao vivo do ZC? Muitos concertos agendados? Quais são os próximos?
GM - Apresentámos o álbum (e celebrámos o décimo aniversário) no passado dia 17 de Maio
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